Estudo aponta aumento no número de passos em quem recebeu estímulos comportamentais ou recompensas
financeiras, em comparação com quem não foi incentivado a se exercitar
Praticar atividade física regularmente está associado a menor risco de problemas de saúde, especialmente os cardiovasculares. Contudo, ainda são poucas as pessoas — especialmente os adultos — que conseguem atingir os 150 minutos de exercícios semanais recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas a ciência vem buscando meios de fazer todo mundo se movimentar mais.
Um estudo publicado na revista Circulation sugere que receber algum tipo de incentivo, comportamental ou financeiro, parece ser uma boa estratégia para estimular adultos a manterem-se mais ativos.
Pesquisadores dos Estados Unidos recrutaram 1.062 indivíduos com doença cardiovascular que tinham risco elevado de sofrer um infarto ou um acidente vascular cerebral (AVC) nos próximos 10 anos. Por duas semanas, os voluntários usaram um equipamento que monitorou o número diário de passos de cada um. Depois, foi definida uma meta para aumentar a média de passos ou alcançar mais do que 1.500 passos por dia.
Em seguida, os participantes foram divididos em quatro grupos, sendo que três deles receberam algum tipo de incentivo para atingir suas metas: uma parte era recompensada financeiramente; outra recebeu recompensas comportamentais associadas a jogos com conquista de pontos (gamificação) e a última recebeu a combinação de ambos. Por fim, um grupo controle usou rastreadores de passos e não recebeu incentivos, apenas uma mensagem de texto diária informando se atingiu ou não a meta. Todos os participantes foram acompanhados por 12 meses.
Ao final do período de intervenção, os grupos incentivados de alguma maneira tiveram aumentos significativamente maiores na média de passos diários em relação ao número inicial, em comparação com o grupo controle. Enquanto as pessoas do grupo controle aumentaram a média diária em cerca de 1.500 passos, as que que tiveram incentivo conseguiram aumentar entre 2 mil e 2.400 o número de passos diários.
Conforme escrevem no artigo, os autores esperam que esse aumento no número de passos esteja correlacionado a um risco 10% menor de morte por ataque cardíaco ou derrame. E, para isso, não existe um “número mágico” de passos — apesar de a própria OMS preconizar que uma pessoa adulta dê 10 mil passos por dia.
De acordo o educador físico Everton Crivoi, doutor em ciências do esporte e responsável pela preparação física no Espaço Einstein Esporte e Reabilitação, do Hospital Israelita Albert Einstein, o importante é o comportamento da pessoa ao longo do dia. Por exemplo: fazer caminhadas longas em um período e passar o restante do dia sentado não é uma boa opção para a saúde. “O bom é se manter ativo ao longo do dia e distribuir na sua rotina esses passos. O exercício programado é importante, mas a atividade física espontânea é fundamental.”
Mas um incentivo extra — seja comportamental ou financeiro — pode ser uma boa ideia. “E isso varia para cada indivíduo. Com certeza alguns serão mais motivados por dinheiro, enquanto outros por conquistas pessoais”, observa Crivoi.
Gamificação como aliada
A gamificação é o uso de dinâmicas de jogos e desafios em diferentes contextos, cujo objetivo é estimular e motivar as pessoas a alcançarem seus objetivos. “No exercício, a gamificação pode ser feita com tecnologia ou não. Por exemplo: aplicativos que estabelecem metas e geram rankings entre os participantes ou equipamentos que marcam pontos conforme a execução correta de determinado exercício são formas de gamificação”, explica o educador físico.
Esse processo também pode se dar sem tecnologia, colocando elementos de jogo, como fazer um treino em circuito com pontos a serem alcançados em cada estação. O mais importante, contudo, é que o indivíduo tenha em mente quais são seus objetivos, e que a recompensa seja algo valioso para ele.
“O esforço demandado e o desconforto da atividade são comparados à recompensa percebida. Se a pessoa considerar o esforço como maior do que a recompensa, provavelmente vai encontrar alguma desculpa para não fazer o exercício”, analisa Crivoi.
Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein