Um estudo inovador da Universidade da Califórnia, San Diego, publicado na revista Molecular Autism, revela o papel fundamental da proteína NDEL1 no crescimento do cérebro e como sua expressão pode influenciar a severidade dos sintomas do Transtorno do Espectro Autista (TEA). A pesquisa utilizou organoides corticais — pequenas estruturas cerebrais derivadas de células-tronco que replicam aspectos do desenvolvimento cerebral humano — de crianças com e sem TEA para observar o impacto da NDEL1 durante as fases embrionárias.
Os cientistas notaram que os organoides derivados de crianças com TEA cresciam mais rapidamente e se tornavam maiores em comparação aos de crianças neurotípicas. Esse crescimento acelerado foi associado a sintomas sociais mais graves. A NDEL1, uma proteína essencial para a migração neuronal e a organização do citoesqueleto, apresentou níveis de atividade reduzidos nesses organoides autistas, sugerindo que o déficit na atividade dessa proteína pode desencadear um desenvolvimento anômalo do cérebro, afetando áreas ligadas à interação social e cognição.
Dr. Fabiano de Abreu Agrela, pós-PhD em Neurociências e membro da Society for Neuroscience nos Estados Unidos e da Royal Society of Medicine no Reino Unido, ressalta a importância dessas descobertas: “Esse estudo mostra como a expressão reduzida da NDEL1 nas fases iniciais do desenvolvimento pode estabelecer bases estruturais que ampliam a severidade dos sintomas autistas. A função dessa proteína na regulação do crescimento neuronal é central, e sua deficiência pode levar a trajetórias de neurodesenvolvimento que influenciam aspectos comportamentais e cognitivos por toda a vida.”
Implicações para a compreensão do autismo e o desenvolvimento
Além de reforçar a importância do gene NDEL1 no crescimento do cérebro, a pesquisa destaca possíveis subtipos de TEA relacionados à taxa de crescimento dos organoides. Crianças com organoides que cresceram de forma mais rápida apresentaram sintomas sociais mais severos, enquanto aquelas com crescimento moderado dos organoides mostraram sintomas mais leves. Esse padrão indica que alterações no desenvolvimento embrionário podem ter efeitos duradouros, influenciando a estrutura e função cerebral de formas que contribuem para as manifestações variadas do autismo.
Para o Dr. Fabiano, essa descoberta abre caminhos para novas abordagens terapêuticas: “Compreender os mecanismos de proteínas como a NDEL1 no desenvolvimento embrionário pode ser essencial para o futuro das intervenções. Se for possível, no futuro, regular o crescimento cerebral em fases iniciais, podemos limitar o desenvolvimento de sintomas mais severos, proporcionando melhores perspectivas de vida para indivíduos no espectro autista.”
C/ MF Press Global