Para um carro elétrico rodar durante o dia, atualmente, ele precisa passar a noite plugado na tomada. Pesquisas recentes, porém, indicam que o tempo de recarga total da bateria pode cair para seis minutos. Por trás dessa evolução tem o dedo da CBMM, companhia que produz nióbio em Araxá, no Alto Paranaíba. A empresa está afinada com a necessidade do Estado de abandonar a dependência da exportação de commodities: quer se firmar como desenvolvedora de tecnologias. “Nosso trabalho é estimular os clientes a desenvolverem seus processos para uso dos nossos produtos”, explica o vice-presidente da CBMM, Ricardo Lima.

O nióbio que ela produz é usado em várias ligas – junto com aço ou ferro, por exemplo – e é aplicado desde em dutos de petróleo a baterias. Fundada em 1955 e com uma trajetória pautada pela confecção de aços, a CBMM aposta nos carros elétricos. Essa quase milagrosa recarga em seis minutos, por exemplo, só será possível graças ao emprego do nióbio mineiro em baterias com alta densidade energética e recarga ultrarrápida.

A empresa, que investe anualmente entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões em pesquisa e desenvolvimento, destinou R$ 40 milhões anuais ao programa de baterias e adquiriu 26% de uma startup em Cingapura que pesquisa a área. “Também investimos em um laboratório em Araxá e construímos uma planta-piloto com a Toshiba no Japão, que já faz células de baterias. Neste ano, vamos começar a mandar as primeiras para montadoras fazerem seus testes”, relata Lima.

A companhia também testa carregamento de ônibus enquanto ele para na estação para embarque e desembarque de passageiros. “Um ônibus que se carrega em poucos minutos não fica parado na garagem”, explica. “Tentamos viabilizar hoje os seis minutos, mas já tem gente pensando em 15 segundos. Ainda é um sonho, mas pode ser que se torne real”, prevê o head de mobilidade, Rodrigo Amado.

Apenas 5% da venda é destinada ao Brasil

Aos poucos, a CBMM abandona o jeitinho quieto do mineiro para ganhar o mundo. Hoje, a companhia vende produtos industriais de nióbio para mais de 50 países. “Só 5% ficam no Brasil. Os outros 95% vão para o mercado externo, com foco na China”, diz o vice-presidente, Ricardo Lima.

O ciclo de crescimento iniciado em 2018 ainda é puxado por aplicações para a siderurgia, mas o coração do negócio está na nova marca, criada para dar visibilidade internacional: Niobium. Atualmente, 70% da empresa é da família Moreira Salles; os outros 30% pertencem a dois consórcios asiáticos.

Fórmula E reúne desenvolvedores

A CBMM, com sua marca Niobium, é uma das patrocinadoras da Fórmula E, competição de carros elétricos. “Isso nos coloca em contato com todo mundo que está desenvolvendo tecnologias para baterias”, comenta o vice-presidente Ricardo Lima.

“O grande desafio é o pilar de sustentabilidade e segurança. Por uma propriedade do nióbio, ele aumenta a resistência, mas dá tenacidade, melhora a absorção de impacto. A Fórmula E usa materiais da indústria aeroespacial, mas já pensam em transportar isso para o carro de massa”, diz Rodrigo Amado. O nióbio também será usado em sistemas de freio.

Números do nióbio pelo mundo

Reservas. Apesar de 90% da produção global atual de produtos de nióbio estar concentrada no Brasil, há depósitos na Rússia, Canadá, Angola, Groenlândia, Gabão, Quênia, Estados Unidos, China, Arábia Saudita, Austrália, Tanzânia, Malaui, República Democrática do Congo, Finlândia, Noruega, África do Sul, Zâmbia, Namíbia, Índia, Espanha e outros.

Volume. O mercado mundial de produtos de nióbio é de cerca de 130 mil toneladas/ano, sendo 120 mil toneladas na forma de ferronióbio. A CBMM tem cerca de 80% de participação no setor.

C/ O TEMPO

Comentários estão encerrados