Por Wellington Martins

Empreender pelas beiradas é a arte de transformar o pouco em potência. É começar com o que se tem, onde se está, com coragem e criatividade. E se tem um exemplo vivo e saboroso disso, é o queijo artesanal que nasce do suor do pequeno produtor e chega às mesas mais exigentes do Brasil e do mundo.

De 26 a 29 de junho, Araxá será o palco do maior espetáculo do queijo brasileiro: a EXPOQUEIJO BRASIL 2025, uma verdadeira celebração do empreendedorismo rural. Aqui, o que parecia simples — um balde de leite fresco — se revela o início de uma jornada repleta de dedicação, técnica, ancestralidade e ousadia.

Imagem produzida com recurso de IA

É na lida diária com as vacas, na ordenha da madrugada, no manejo respeitoso com a natureza, que começa essa história. O produtor de leite, com suas botas sujas de barro e a alma cheia de esperança, é o primeiro elo de uma cadeia de valor que cresce a cada ano. Ele é o empreendedor silencioso, muitas vezes invisível, mas absolutamente essencial.

A primeira etapa na produção de queijo começa com a alimentação do gado leiteiro, cuidadosamente planejada para garantir qualidade e sanidade. Aqui, o empreendedorismo exige visão e planejamento, duas qualidades indispensáveis para quem quer ir além do improviso. O produtor que pensa no longo prazo investe no bem-estar animal, entendendo que resultados duradouros não nascem da pressa, mas do cuidado contínuo.

Logo depois vem a ordenha — muitas vezes antes do sol nascer. É nesse momento que entram a disciplina e a resiliência, marcas do verdadeiro empreendedor. Quem acorda todos os dias no mesmo horário, enfrenta o frio, a chuva, e mesmo assim entrega um leite de qualidade, é alguém que sabe que persistência gera consistência — um dos maiores ativos de qualquer negócio.

Com o leite em mãos, inicia-se o processo mágico da transformação: aquecer, coalhar, cortar, dessorar, moldar, salgar e maturar. Cada fase requer atenção aos detalhes, criatividade e capacidade de adaptação, qualidades empreendedoras que não cabem só em escritórios ou startups. O queijeiro precisa decidir o tempo certo, a temperatura ideal, a virada precisa. Como todo bom empreendedor, ele erra, ajusta, testa, aprende. E no fim, entrega algo único — com identidade e alma.

Do leite à maturação, do cuidado à inovação, surge o queijo artesanal — símbolo da cultura, da economia e agora, também, patrimônio imaterial da humanidade, reconhecido pela Unesco. Essa conquista é o ápice de uma trajetória de fé e resiliência. E prova, mais uma vez, que empreender é sim possível, especialmente quando feito pelas beiradas: com paixão, persistência e propósito.

Não se trata apenas de queijo. Trata-se de pessoas. De famílias. De gerações que mantêm viva uma tradição, ao mesmo tempo em que reinventam o próprio destino.

Em Araxá, nesta semana, celebramos mais que um alimento. Celebramos um movimento. Um Brasil que dá certo começando pelo campo. Um queijo que atravessa fronteiras, sem deixar de lado suas raízes. E um povo que transforma o que tem — o leite, a terra, a cultura — em ouro branco.

A todos os produtores, queijeiros, afinadores, pesquisadores, empreendedores e apaixonados: parabéns! O mundo hoje reconhece aquilo que vocês já sabiam há tempos. Que o nosso queijo é muito mais que sabor — é símbolo de identidade, de resistência e de um empreendedorismo que começa pelas beiradas e vai até o topo do mundo.

Um abraço e até a próxima!

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