Valor médio do combustível subiu cerca de 7,7% nos postos, enquanto o salário mínimo teve reajuste de 5,26%

Desde a primeira semana de 2021 até meados de fevereiro, o preço da gasolina nos postos de combustível brasileiros aumentou, em média, cerca de 7,7%, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), alta que supera o reajuste do salário mínimo deste ano, que foi de 5,26%. Um novo reajuste de valores dos combustíveis anunciado pela Petrobras na segunda-feira (1º) pode aumentar as cifras ainda mais, enquanto cresce a pressão pela revisão da política de preços da estatal.

O novo reajuste da gasolina para as refinarias, de 4,8%, será o quinto deste ano. Acumulados, os aumentos somam 41,5%. E não atingem apenas a gasolina: o diesel, combustível mais utilizado pelos caminhões no país, e o gás de cozinha também terão aumento, de 5%, 5,2%, respectivamente. No caso do diesel, será o quarto do ano, gerando acúmulo de 34,1% de elevação do valor.

Petrobras anunciou quinto aumento do ano nesta semana. Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

“O reajuste é repassado quase diretamente ao consumidor pelos postos, porque a margem de lucros dessas empresas não é alta o bastante para absorverem o aumento de custo”, avalia o economista Paulo Casaca, professor do Ibmec. Em Belo Horizonte, segundo pesquisa do Mercado Mineiro, álcool, diesel e gasolina aumentaram cerca de R$ 0,50 em um mês, e a tendência, na perspectiva do diretor do instituto, Feliciano Abreu, é que os aumentos continuem.

Casaca lembra que os combustíveis têm participação significativa no cálculo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação nacional, por isso o aumento desses produtos tende a afetar grande parte dos demais. “Movimentos no preço da gasolina são muito importantes para a inflação, porque, além de ser um item que todo mundo usa direta ou indiretamente, o transporte de mercadorias depende de combustível”, explica.

Petrobras culpa câmbio e mercado internacional pelo aumento

A Petrobras justifica que o aumento deve-se ao valor dos produtos no mercado internacional e à taxa de câmbio. Uma carta na mesa do governo federal é a criação de um fundo de estabilização dos combustíveis na estatal: isto é, quando o valor do petróleo abaixar globalmente, não diminuir integralmente o preço no Brasil. Assim, quando ele aumentar mundialmente de novo, há margem para controlar a escalada no país e manter o valor mais ou menos estável ao longo do ano. A medida não era aprovada pelo presidente da Petrobras, Castello Branco, que será afastado do cargo no dia 20 deste mês.

O professor do Ibmec Paulo Casaca apoia a medida e ressalta que o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cobrado pelos Estados e que está no centro da pauta dos tanqueiros mineiros, não é o maior vilão dos preços. “É muito complicado pensar em como governos vão abaixar o ICMS, quando estão quebrados fiscalmente, ainda mais no meio de uma pandemia. Esse seria um movimento político, sem muita técnica”, diz.

O presidente Jair Bolsonaro também propõe cortar os impostos federais sobre combustíveis por dois meses, mas não há consenso entre economistas sobre o efeito prático dessa ação sobre o valor final dos produtos. “Não creio que isso tenha impacto significativo na redução do preço. Mesmo zerar os impostos não vai conseguir contrabalançar o aumento dado neste ano. O reajuste de hoje pode não ser refletido nas bombas, por causa da redução dos impostos, mas isso não vai dar conta de reduzir preços ao patamar em que estavam no final de 2020, por exemplo”, avalia o coordenador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Rodrigo Leão.

Após dias de tensão nas filas de postos de combustível na Grande BH, lotadas devido à greve dos tanqueiros de Minas, o novo aumento proposto pela Petrobras já preocupa consumidores. “Fui pego de surpresa, mais uma vez, com esse aumento. Durante a pandemia eu reduzi o uso do carro para trabalho. Por semana, gasto em torno de R$200 para colocar gasolina. O meu trabalho depende do carro, caso contrário deixaria ele na garagem e usaria só carro de aplicativos”, diz o músico Alexandre Barbosa Moura, 42.

“Se der bobeira, a gente passa fome. O nosso governo é safado e querem colocar culpa nos presidentes passados. Nosso petróleo é o mais barato que tem. ‘Sai para fora’, aí a gente compra mais caro. Querem colocar nosso petróleo como dólar. Nós não ganhamos em dólar. Graças a Deus não fui  para fila de posto (na paralisação dos tanqueiros), isso é trouxa que faz”, comenta o motorista Edson Ferreira, 56.

Gás de cozinha terá aumento de 5,2% nas refinarias

O gás de cozinha também aumentará 5,2% nas refinarias brasileiras. Em meados de fevereiro, pesquisa do Mercado Mineiro mostrou que, na Grande BH, o preço do botijão de 13 kg havia aumentado, em média, 12% nas distribuidoras, em um ano, com algumas delas cobrando entre R$90 e R$105 pelo produto.

Em uma distribuidora no bairro Praia, em Contagem, o botijão começou o ano sendo vendido por R$85, e agora chegou a R$87. O gerente da empresa, Flávio de Oliveira, 52, diz que a alta tem afastado clientes e que repassar ao consumidor mais um aumento proposto pela Petrobras, o terceiro deste ano, será inviável.

“A concorrência é muita, os impostos são altíssimos e tenho que diminuir minha margem de lucro para continuar sobrevivendo. Já tive margem de R$23 com cada botijão, hoje, o bruto é R$ 15”, diz. O governo Bolsonaro promete zerar permanentemente os impostos federais sobre o gás de cozinha, que equivalem a 3% da composição do valor do produto, ação que Oliveira avalia que gerará pouca economia.

C/ O Tempo

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