Leia o artigo da médica endocrinologista da Unimed Araxá, Thaís Vital Costa Vivenza
O fenômeno da compulsão alimentar foi descrito formalmente pela primeira vez em 1959. No entanto, o transtorno da compulsão alimentar periódica só foi formulado como um diagnóstico distinto na década de 1990.
O transtorno da compulsão alimentar periódica é mais comum em mulheres do que em homens e a idade média do diagnóstico é de 23 anos. Indivíduos com essa condição correm maior risco de desenvolver distúrbios médicos gerais, incluindo diabetes mellitus, hipertensão e obesidade.
Essa condição é definida como a ingestão de uma quantidade de comida em um período de tempo (por exemplo, duas horas), que é definitivamente maior do que a maioria das pessoas comeria em período de tempo e circunstâncias semelhantes. Esses episódios ocorrem, em média, pelo menos uma vez por semana durante três meses. Durante os episódios, os pacientes sentem que não têm controle sobre a alimentação (por exemplo, sentem que não conseguem parar de comer ou controlar a quantidade ou o que estão comendo).
Os episódios de compulsão alimentar são marcados por pelo menos três das seguintes situações:
– Comer mais rápido do que o normal;
– Comer até sentir-se desconfortavelmente cheio;
– Comer grandes quantidades de comida quando não se sente fisicamente com fome;
– Comer sozinho por vergonha da quantidade de comida consumida;
– Sentir-se desgostoso consigo mesmo, deprimido ou culpado depois de comer demais.
A psicopatologia central entre os pacientes com transtorno da compulsão alimentar periódica é uma supervalorização da forma do corpo e do peso, o que significa que a autoestima depende em grande parte ou exclusivamente desses fatores e da capacidade de controlá-los. Isso produz comportamentos alimentares disfuncionais, que levam a uma vulnerabilidade psicológica e fisiológica e, consequentemente, aos episódios de compulsão alimentar.
Uma avaliação completa do paciente com transtorno da compulsão alimentar periódica é necessária para planejar o tratamento. Essa avaliação deve incluir:
– o estado psiquiátrico do paciente (atitude em relação ao peso e forma do corpo, autoestima);
– estado médico (índice de massa corporal, presença de diabetes, alteração de colesterol, doença cardíaca, doença do refluxo gastroesofágico);
– estado nutricional (padrão alimentar, tipos de excessos, frequência e intensidade dos episódios de compulsão alimentar) e o impacto dessa condição na qualidade de vida.
As metas de tratamento incluem reduzir os episódios de compulsão alimentar, controle do peso (caso haja sobrepeso ou obesidade associados), aumentar a autoaceitação e manejar comorbidades psiquiátricas, caso estejam presentes.
O tratamento deve ser multidisciplinar e envolver o Endocrinologista, Psiquiatra, Terapeuta e Nutricionista, uma vez que inclui psicoterapia, terapias de autoajuda e comportamentais e o tratamento medicamentoso, quando indicado.
Vários tipos de medicamentos foram estudados, incluindo inibidores seletivos da recaptação de serotonina, drogas antiepilépticas (por exemplo, Topiramato) e medicamentos tipicamente indicados para transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (por exemplo, Lisdenxefetamina).
O benefício da farmacoterapia para os sintomas do transtorno da compulsão alimentar periódica parece ser menor do que o efeito da psicoterapia, portanto ressalta-se a importância do tratamento multidisciplinar dessa condição, reconhecendo os gatilhos e as condições psiquiátricas associadas.
O transtorno da compulsão alimentar periódica pode ser difícil de detectar porque os pacientes muitas vezes sentem vergonha e podem demorar a buscar ajuda. A presença do transtorno é sugerida por pistas como: insatisfação com o peso maior do que o esperado, grandes flutuações de peso e sintomas depressivos. Na presença destes sinais, é importante procurar ajuda médica. Pacientes com essa condição merecem acolhimento e tratamento adequado.
Thaís Vital Costa Vivenza
Médica Endocrinologista – Unimed/Araxá