A Cepe Editora anunciou os vencedores do 8º Prêmio Cepe Nacional de Literatura e do 5º Prêmio Cepe Nacional de Literatura Infantil e Infantojuvenil. Os escritos de Blanca Mares, do mineiro Roberto Marcos, foi escolhida a melhor obra na categoria Romance. Atemoia, do paulista Keichi Maruyama, conquistou a categoria Conto. E Cicatrizes na paisagem, do gaúcho Felipe Julius, arrebatou a categoria Poesia.
Para os textos infantil e infantojuvenil saíram vitoriosos A morte e o estagiário da Morte, do gaúcho Ernani Ssó, e A menina que não queria ver Deus, da mineira de Araxá Lisa Alves. Cada vencedor receberá um prêmio no valor de R$ 20 mil e terá a obra publicada pela Cepe. Os resultados das seleções foram divulgados na edição de quarta-feira (23/07) no Diário Oficial do Estado de Pernambuco e estão disponíveis no site da editora (https://www.cepe.com.br/premio-cepe).
A mineira de Araxá Lisa Alves conquistou a categoria Infantojuvenil com A menina que não queria ver Deus. Na obra, ela conta a história de Maria Antônia, de 11 anos, que vê um mundo adulto com brigas, ausências e silêncios e recorre à filosofia, à mitologia e às histórias da avó para tentar compreender o que não faz sentido. Em suas orações, pede para que Deus a ouça, mas não apareça. “Ganhar o Prêmio Cepe com A menina que não queria ver Deus é um alívio amargo. Escrevi esse livro pensando nas crianças que ainda têm tempo de perguntar, porque tantas outras têm sido silenciadas sem misericórdia. Obrigada a todas as mãos que cuidam das palavras. E a quem, como Maria Antônia, ainda prefere as perguntas às certezas”, diz Lisa Alves, escritora, videoartista e roteirista.
Participação
A Cepe registrou um total de 1.740 inscrições nos prêmios literários, sendo 1.075 para a categoria adulta e 665 na edição Infantil e Infantojuvenil. Isso representa um aumento de 19,7% em relação aos últimos concursos, em 2022. São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia foram os estados com maior número de candidatos. Desta vez, houve uma proporcionalidade em relação ao gênero, sendo 52,9% componentes masculinos e 47,1% femininos.
Lisa Alves é escritora, videoartista e roteirista, com atuação na literatura e no audiovisual. É autora dos livros Arame Farpado (Coletivo Púcaro, 2015), Quando tudo for possível (Mirada, 2022) e Jardim de Pragas (Patuá, 2025) recentemente lançado na Feira do Livro em São Paulo. Sua obra transita entre a literatura, o cinema e a performance, dialogando com diferentes formas narrativas e estéticas.
No audiovisual, lançou o curta de animação Inventário de Desmemórias (2025), contemplado pela Lei Paulo Gustavo do Município de Araxá, com apoio da Fundação Cultural Calmon Barreto e da Prefeitura Municipal de Araxá. Também recebeu o prêmio FAC (Festival Audiovisual de Cultura de Minas Gerais) pela animação “O último refrão da música”.
Em 2020 teve o videopoema Relatório de ausências premiado no festival “Arte como respiro” do Itaú Cultural. E o curta Depois do sétimo dia (2020) ganhador do prêmio Elo Company (2020). Em 2018, Sou indesejável (2018), foi o curta ganhador dos prêmios de melhor filme (júri oficial e júri popular) na categoria Lanterna Mágica do Festival Internacional de Cinema do Arquivo Nacional.
Em entrevista ao Jornal Araxá, a artista destaca que receber o Prêmio Nacional CEPE de Literatura, é mais do que um reconhecimento, “é uma afirmação de que a literatura ainda tem fôlego para tocar o que há de mais vital e mais urgente em nós. Num país tão marcado por desigualdades históricas, ver uma editora pública como a CEPE apostar em vozes diversas, plurais, situadas fora dos grandes centros, é um gesto radical de democratização da palavra.”
“A personagem da minha história, continua ela, “é uma menina que questiona o mundo com a inteligência sensível das infâncias. E o mundo, infelizmente, tem oferecido pouco a elas: poucas respostas, pouca escuta, pouca proteção. Em tempos em que tantos direitos das crianças e adolescentes são ameaçados no mundo, inclusive o mais básico de todos, o direito à vida, saber que meu livro circulará como um corpo que pensa, duvida e imagina outro futuro é uma força para continuar escrevendo”, complementou.
Lisa ainda arremata, “o público infantojuvenil ainda está disponível para o espanto, para as perguntas sem pressa de resposta. É por isso que decidi começar com um romance para esse público: não por querer ensiná-lo algo, mas por reconhecer nele a profundidade que muitas vezes o mundo adulto já desaprendeu. Acredito na literatura como construção coletiva de sentido, como ferramenta de resistência e delicadeza, como lugar de pergunta. Receber esse prêmio é ter a chance de seguir perguntando junto com quem ainda não desistiu de sonhar.”