Vigilância Sanitária Estadual orienta que é preciso conferir e evitar misturas;
Governo de Minas fiscaliza e oferece canais de denúncia

Detergente, desinfetante, álcool, cloro e cera são alguns dos saneantes aos quais temos acesso para fazer a limpeza e higienização dos ambientes. Eles são utilizados, na maioria das vezes, sem seguir um padrão de quantidades ou misturas e sempre tem alguém com uma receita caseira para acabar com a sujeira de vez. No entanto, a combinação de alguns desses itens pode causar sérias reações alérgicas ou intoxicações.

“Os produtos de limpeza nunca devem ser misturados de forma aleatória. É necessário verificar as informações do rótulo e seguir as orientações do fabricante, tanto no manuseio, quanto na diluição, para prevenir acidentes que podem ser causados pela reação entre os componentes, como irritação, intoxicação e até queimaduras”, alerta a coordenadora de Cosméticos e Saneantes da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Renata Stehling Reis.

“Todo produto regular tem informações como o nome, empresa responsável, componente ativo, lote e data de validade no rótulo. Se não tiver nenhuma informação, é irregular ou clandestino e não deve ser adquirido”, destaca.
Karla Albino é coordenadora de Garantia da Qualidade de uma empresa fabricante de produtos de limpeza em Belo Horizonte, que possui seis álcoois saneantes regularizados junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ela explica que, para que a fábrica recebesse a certificação, ao longo dos 31 anos de mercado, foi necessário implementar diversos controles durante a produção para cumprir as exigências sanitárias, principalmente relacionadas à segurança.

Foto Crédito: Freepik.com

“Estabelecemos controle no processo produtivo e fazemos a conferência desde o início, com verificação da área produtiva e dos equipamentos. Então, retiramos amostras para verificar se o produto está dentro da especificação e verificamos a volumetria das embalagens”, detalha.

“Trabalhamos com álcool, que é um produto perigoso, então precisamos garantir que o cliente tenha todas as informações necessárias. No rótulo estão as advertências de uso, cuidados de armazenamento e os pictogramas de alerta de riscos. Além disso, tem a identificação do lote, que permite que o processo de produção seja rastreado para análise”, completa a coordenadora.

Riscos à saúde

Renata Stheling lembra que os itens de limpeza devem ficar guardados em local seguro. “É muito importante ter cuidado no armazenamento, principalmente por causa de crianças e animais. Como as embalagens e os líquidos são coloridos, atraem a atenção dos pequenos, aumentando a possibilidade de graves acidentes”, salienta.

Por falar em crianças, elas são maioria quando o assunto é intoxicação acidental com produtos de uso domiciliar. De acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), foram registrados 145 casos em crianças de 1 a 4 anos em 2023 e de janeiro a julho de 2024. Na faixa etária de 20 a 64 anos foram registrados 173 acidentes no mesmo período, o que também envolve a má utilização dos produtos, misturas de componentes reagentes ou uso de itens irregulares.

Dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH-SUS) apontam que 36 crianças de 1 a 4 anos precisaram de internação devido às consequências dos acidentes causados por intoxicação acidental com produtos químicos em 2023 e de janeiro a maio de 2024. No caso dos adultos, de 20 a 69 anos, foram 40 internações.

Fátima Luz é faxineira e utiliza vários saneantes durante a faxina dos clientes e de casa. Ela mistura alguns produtos para potencializar os resultados da limpeza, mas já sofreu com reações alérgicas por não se atentar aos componentes que não podem ser misturados.

“Às vezes misturo alguns produtos como água sanitária, bicarbonato, álcool e até sal. Não costumo verificar as informações dos rótulos e por isso já tive alergia nas mãos, com muita coceira, ardência nos olhos e tosse prolongada, tudo por causa dessas misturas aleatórias”, conta.

Fiscalização

A Vigilância Sanitária Estadual inspeciona os fabricantes e as Vigilâncias Sanitárias Municipais fiscalizam, principalmente, os distribuidores e comércio varejista, para evitar a comercialização de produtos irregulares. Esse monitoramento tem a finalidade de verificar se as boas práticas de fabricação, distribuição e comercialização foram seguidas, por meio da análise dos componentes da formulação, processo de embalagem, rotulagem e identificação do item, assim como armazenamento e transporte.

“As ações da Visa asseguram a qualidade dos produtos comercializados e a segurança dos consumidores. As inspeções são realizadas para renovação do Alvará Sanitário ou mediante alguma denúncia”, ressalta Renata Stehling.

Ela também faz um alerta para os saneantes de fabricação caseira, que geralmente são vendidos em garrafas pet, sem identificação, por ambulantes nas ruas, em pequenos comércios ou de porta em porta. A Visa alerta que esses produtos podem ser prejudiciais à saúde, pois não passam por nenhum controle de qualidade ou sanitário.

“Se o local de fabricação não foi inspecionado pela Vigilância Sanitária, esse produto não está regular junto à Anvisa, nem possui comprovação de eficácia e, portanto, não deve ser adquirido”, conclui.

Canais de denúncia

Qualquer pessoa pode usar os canais da Visa para denunciar um produto clandestino ou empresa caso perceba alguma anormalidade na embalagem. A denúncia pode ser feita na Ouvidoria-Geral do Estado de Minas Gerais (OGE/MG), pelo número 162 ou pelo endereço ouvidoriageral.mg.gov.br.

Também é possível enviar ofício para a Cidade Administrativa (Rodovia Prefeito Américo Gianetti, 4001 – Serra Verde – Belo Horizonte/MG – Prédio Gerais/12º Andar – CEP 31630-901. Destinatário: Diretoria de Vigilância em Medicamentos e Congêneres).

A Ouvidoria de Saúde também recebe manifestações nas Unidades de Atendimento Integrado (UAI) de todo o estado, das 7h às 19h, de segunda a sexta-feira, e aos sábados, das 8h às 14h. A Anvisa disponibiliza em seu portal a consulta de produtos irregulares, onde é possível fazer a busca pelo nome do produto, empresa e categoria.

O que fazer em caso de reação?

Caso seja percebida irritação, vermelhidão, coceira ou queimaduras após utilizar algum saneante, é preciso lavar a área imediatamente com água corrente e entrar em contato com o fabricante do produto para fazer um relato completo do ocorrido. Em casos graves, é preciso procurar atendimento em uma unidade de saúde o mais rápido possível.

Karla Albino esclarece que a empresa em que trabalha possui um Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC), que recebe notificações de intoxicação ou reação. “No rótulo dos produtos tem o telefone do nosso SAC e o cliente precisa fornecer o número do lote para que a gente consiga fazer o rastreio daquela produção. Com essa informação, investigamos as possíveis causas da reação e damos o devido retorno ao consumidor”, completa.

O consumidor também pode registrar as reações ou intoxicações no e-Notivisa. O portal permite comunicar problemas de vigilância sanitária diretamente para a empresa responsável.

O sistema recebe notificações de eventos adversos e queixas técnicas sobre saneantes de qualquer cidadão com CPF. O acesso é por meio do login único do Governo Federal, pela conta no gov.br.

C/ Agência Minas

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