Em artigo, médica infectologista da Unimed Araxá explica as principais dúvidas sobre o vírus e a doença
Foi pelas mãos dos cientistas franceses Luc Montagnier (1932-2022) e Françoise Barré-Sinoussi, em 1983, que o mundo da ciência vislumbrou pela primeira vez o vírus HIV, causador de uma doença severa que ataca o sistema imune. O momento atual para o HIV/Aids, após 40 anos da descoberta desse vírus é bem diferente, tanto em relação ao conhecimento do vírus e da doença, quanto dos tantos tratamentos que existem e hoje oferecem uma qualidade de vida excelente desde que haja a adesão e acompanhamento médico apropriado.
A aids é uma doença causada pela infecção do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV é a sigla em inglês). O HIV é um vírus que se espalha através de fluídos corporais e afeta células específicas do sistema imunológico, conhecidas como células CD4, ou células T.
Sem o tratamento antirretroviral, o HIV afeta e destrói essas células específicas do sistema imunológico e torna o organismo incapaz de lutar contra infecções e doenças. Quando isso acontece, a infecção por HIV leva à AIDS, ou seja, um estágio mais avançado da doença, onde há a possibilidade de se evoluir com infecções oportunistas e onde há um grande processo inflamatório no organismo podendo haver comprometimento de vários órgãos do corpo. Ao contrário de outros vírus, o corpo humano não consegue se livrar do HIV. Isso significa que uma vez que você contrai o HIV, você viverá com o vírus para sempre.
A cada dia, cerca de 90 brasileiros recebem o diagnóstico de que foram infectados pelo vírus HIV, de acordo com a média de notificações enviadas ao Ministério da Saúde nos últimos anos. Em todo o mundo, são 38 milhões de pessoas convivendo com o vírus. No Brasil, de 1980 até junho de 2022, foram detectados 1.088.536 casos de aids. A taxa de detecção apresentou decréscimo de 26,5% entre 2011 e 2021. No mesmo período, um total de 52.513 jovens com HIV, de 15 a 24 anos, de ambos os sexos, evoluíram para aids. Os casos de aids em crianças menores de 5 anos de idade se mantiveram estáveis nos dois últimos anos. No período de 2000 até junho de 2022, foram notificadas no país 149.591 gestantes/parturientes/puérperas infectadas pelo HIV, das quais 8.323 no ano de 2021, com uma taxa de detecção de 3,0 gestantes/mil nascidos vivos (NV). A taxa de detecção de gestante/ parturiente/puérpera tem se mantido estável desde 2018. Também em 2021, foram registrados óbitos por causa básica aids, com uma taxa de mortalidade padronizada de 4,2 óbitos/100 mil habitantes. A taxa de mortalidade padronizada sofreu decréscimo de 26,4% entre 2014 e 2021.
A transmissão do HIV e, por consequência da Aids, acontece das seguintes formas: sexo vaginal sem camisinha; sexo anal sem camisinha; sexo oral sem camisinha; uso de seringa por mais de uma pessoa; transfusão de sangue contaminado; da mãe infectada para seu filho durante a gravidez, no parto e na amamentação e instrumentos que furam ou cortam não esterilizados.
A única forma de saber se você está infectado com HIV é por meio do teste. Você não pode confiar nos sintomas para saber se você tem HIV. Muitas pessoas que estão infectadas com o HIV não têm nenhum sintoma durante 10 anos ou mais.
O diagnóstico da infecção pelo HIV é feito a partir da coleta de sangue ou por fluido oral. No Brasil temos os exames laboratoriais e os testes rápidos que detectam os anticorpos contra o HIV em cerca de 30 minutos.
O teste de HIV deve ser feito com regularidade e sempre que você tiver passado por uma situação de risco, como ter feito sexo sem camisinha. É muito importante que você saiba se tem HIV, para buscar tratamento no tempo certo, possibilitando que você ganhe muito em qualidade de vida.
As mães que vivem com HIV têm 99% de chance de terem filhos sem o HIV se seguirem o tratamento recomendado durante o pré-natal, parto e pós-parto. Sendo assim, na gestação é de extrema importância a realização do exame de HIV e do tratamento adequado.
Até o momento, não há previsões para uma cura. A terapia antirretroviral (ART) que impede a multiplicação do HIV no organismo pode prolongar significativamente a vida de muitas pessoas infectadas pelo HIV e diminuir as chances de transmissão da doença. Com a introdução da ART tivemos diminuição significativa da mortalidade e morbidade relacionadas a esta doença. É importante que as pessoas façam o teste de HIV e saibam desde cedo que estão infectadas para que os cuidados médicos e o tratamento tenham maior efeito.
Para evitar a transmissão da aids, recomenda-se o uso de preservativo durante as relações sexuais, a utilização de seringas e agulhas descartáveis e o uso de luvas para manipular feridas e líquidos corporais, bem como testar previamente sangue e hemoderivados para transfusão. Além disso, as mães infectadas pelo vírus (HIV-positivas) devem usar antirretrovirais durante a gestação para prevenir a transmissão vertical e evitar amamentar seus filhos.
Também existem outras estratégias de prevenção que consistem na PEP e PrEP.
A PEP é uma medida de prevenção de urgência à infecção pelo HIV, que consiste no uso de medicamentos para reduzir o risco de adquirir essas infecções. Deve ser utilizada após qualquer situação em que exista risco de contágio, tais como: violência sexual; relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com rompimento da camisinha) e acidente ocupacional (com instrumentos perfuro cortantes ou contato direto com material biológico).
A Profilaxia Pré-Exposição ao HIV consiste no uso de antirretrovirais que são utilizados antes da exposição para reduzir o risco de adquirir a infecção pelo HIV. Essa estratégia tem se mostrado eficaz e segura em pessoas com risco aumentado de adquirir a infecção.
Jaqueline Ribeiro da Silva
Médica Infectologista – Unimed Araxá