Conviver com netos estimula avós a terem melhor qualidade de vida para usufruírem de tempo de qualidade

Muitos adultos lembram com carinho os bons momentos que passaram com seus avós. Essa não é a realidade vivida por Eliana Soares de Souza, que quando nasceu, seus avós paternos e maternos já haviam morrido. Mas, com certeza, vai ser vivida por sua neta, a pequena Luísa Souza de Jesus, de nove anos, que convive diariamente com a avó, sua vizinha. E, enquanto Eliana contava para a reportagem que não chegou a conviver com os avós, Luíza, que estava ao seu lado, se emocionou e deu sua mão a avó, como uma forma de consolo e acolhimento.

Essa é só uma das demonstrações da grande ligação que as duas têm. “Desde que a Luísa era pequenininha, eu sempre sentei com ela no chão e eu sempre olhava no olho dela. Então acho que ela nunca me viu como uma adulta e por isso que o nosso relacionamento é muito mais de amizade”, relata a avó.

Essa relação entre avós e netos, além de fortalecer laços familiares também faz bem, tanto para a saúde física quanto emocional de ambos e, segundo um estudo da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, chega até a afastar a depressão em quem já passou dos 70 anos e também nos mais jovens.

Para a psicóloga Bárbara Couto, um dos principais motivos para o desenvolvimento de depressão é o isolamento social em que muitos idosos vivem. “Sentir-se amado e amar fortalecem a saúde mental. E, claro, o neto traz momentos de alegria, de diversão, com atividades prazerosas, que aumentam a liberação de neurotransmissores como a dopamina e a serotonina, que estão associadas ao sentimento de felicidade”, explica Bárbara.

Eliana não tem depressão e a convivência com Luísa é um dos motivos. Mas a avó já passou por momentos em que, doente, não tinha força para levantar da cama e a presença da neta foi crucial para que ela reagisse. “Tive duas gripes muito fortes, que me derrubaram e eu não conseguia sair da cama. Mas todas as vezes que a Luísa chegava na minha casa parecia que tinha tomado uma vacina de ânimo. Já me dava vontade de levantar, de brincar um pouco com ela, de sair da cama, me sentindo viva”, descreve ela.

Avós ativos e saudáveis

Diferente dos avós de antigamente, que ficavam em casa fazendo palavra cruzada e crochê, a maioria dos avós de hoje tem vida ativa, faz exercícios físicos, viaja com amigos, tem vida social. Eliana faz Pilates e ações sociais no centro espírita que ela frequenta e acredita que isso influi diretamente na sua relação com a neta. “A Luísa é uma criança ativa demais e o fato de eu fazer atividade física me dá condicionamento para acompanhá-la nas brincadeiras, nos jogos de bola que ela tanto gosta”, lembra ela.

Ter a vida ativa estimula o cérebro a manter e até melhorar algumas funções cognitivas, como a atenção, a memória e o raciocínio, que vão declinando com o tempo. E as atividades físicas e mentais, além de fazerem bem ao físico, também reduzem o risco de demência, do Alzheimer. “Com o avanço da ciência, vive-se mais e melhor. O idoso tem que se conscientizar de que, quando chega na terceira idade, a vida não acaba, é apenas mais um momento da vida dele, que deve ser aproveitado. E, se manter ativo aumenta a autoestima e a autoconfiança, que são sentimentos muito importantes para envelhecer com melhor saúde mental. Além, é claro de, tanto a atividade física, quanto a socialização proporcionada por ela, reduzir o risco de depressão e de ansiedade”, alerta a psicóloga Bárbara Couto.

Avó é mãe com açúcar

A frase é um chavão já conhecido. Mas, quem se torna avó, garante que é assim mesmo. “E é verdade, porque a avó não tem aquele compromisso da educação. A gente tenta seguir as mesmas linhas de educação dos pais, mas, acaba ensinando de uma forma mais carinhosa, com mais paciência, coisa que, com os filhos a gente não conseguia muitas vezes ter”, relata Eliana.

E Luísa diz que aprende com muitas coisas que faz com a avó, não só com ensinamentos. “Ela me conta histórias da infância e juventude dela e da minha mãe. Enquanto ela conta, vou aprendendo o que deve ou não fazer. Avó sabe de tudo”, conta Luísa.

Essa leveza dos avós tem motivo: os pais, geralmente, vivem o dia-a-dia muito pressionados pelas responsabilidades da vida dos filhos, em relação à educação, dinheiro, saúde, casa e tantas outras, coisas que não cabem aos avós. “Os pais tem essa pressão de educar, passar valores, disciplina, limite. Os avós podem ter um papel de rede de apoio para os pais, mas sem a necessidade de disciplinar, de ter regras rígidas. É mais um papel de amor, de compreensão e de acolhimento. Essa relação geralmente é baseada em afeto e tem menos conflito e tensões, porque é um amor diferente,  menos afetado pelas preocupações do dia a dia” explica Bárbara.

Ela ainda acrescenta que, “nessa relação leve, ambos saem ganhando: avós e netos. Para o avô, é uma prevenção à depressão, motiva para um envelhecimento mais saudável, mais amoroso e menos solitário. E para o neto, é uma relação de amor, em que ele se sente aceito e incondicionalmente amado. Então, são vínculos emocionais muito fortes e que trazem muito bem-estar e que, muitas vezes, é um refúgio de paz para os dois lados.”

E Luísa demonstra isso finalizando assim a entrevista: “Ela é minha melhor amiga e um presente de Deus na minha vida!”

A psicóloga Bárbara Couto

Bárbara Couto é Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB) e tem Mestrado em Psicologia Clínica e Saúde pela – Universidad Europea del Atlantico (UNIAtlântico), da Espanha.

Ela também tem Especializações em Terapia Cognitivo Comportamental e Neurociências e em Comportamento, ambas pela PUC-RS e em Neuropsicologia Clínica, pela Capacitar.

Bárbara Couto escreveu dois livros, editados pela Drago Editorial, em versões impressa e e-book. O primeiro “Permita-se”, sobre relacionamentos abusivos e libertação emocional. E o segundo “Aceita-se”, sobre tabus e necessidade da autoaceitação para sobreviver em uma sociedade que tem dificuldade em aceitar.

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