Cerca de 424 mortes por coronavírus teriam sido evitadas até esta quarta-feira (20) por efeito do distanciamento

Até esta quarta-feira (20), 424 vidas terão sido salvas pelo isolamento social no Brasil, 268 delas só nos Estados do Sudeste. Se o isolamento for mantido nos níveis atuais, deve haver uma morte a menos a cada minuto, aproximadamente, durante as próximas duas semanas no país — chegando a 3.827 vidas poupadas até o dia 1º de junho. A estimativa é de um estudo de pesquisadores do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), que reúne pesquisadores de instituições como a Universidade de São Paulo (Usp) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Eles tentam calcular o ritmo da pandemia no país desde a adoção de medidas de isolamento no Estado de São Paulo, no dia 24 de março, atualizando a informação diariamente em um site. O que já notaram é que, depois que as pessoas passaram a ficar em casa ao redor do país, a aceleração do contágio diminuiu.

Um dos indicadores para essa conta é a quantidade de pessoas que alguém infectado pelo novo coronavírus contamina. No começo da pandemia, o valor girava ao redor de 2,2 novas contaminações por doente, mas, agora, o valor chega a cerca de 1,5. No Sudeste, o valor foi de aproximadamente 2,3 para 1,4.

Ainda está longe do ideal, que é abaixo de 1, explica um dos autores da pesquisa, o físico Tiago Pereira da Silva. “Salvar vidas é bastante positivo, mas o problema todo é que, mesmo com essa quantidade de vidas salvas, a curva de casos foi pouco achatada”, avalia.

O número de novos casos e óbitos no Brasil continua batendo recordes, e a situação poderia ser ainda pior sem o isolamento, mostram os cálculos do grupo de pesquisa. “Se o isolamento social fosse banido hoje, a pandemia voltaria a crescer nos patamares de fevereiro”, explica Silva.

Seria avassalador, nas palavras dele, porque, atualmente, um número muito maior de pessoas está contaminada do que no começo da pandemia — são 271.628, de acordo com o Ministério da Saúde. Se, no começo da pandemia, 100 pessoas, por exemplo, infectavam outras 2,2, cada, agora seriam cerca de 270 mil infectando 2,2 outras, cada.

Pesquisadores ainda buscam respostas para aprimorar isolamento social

O professor do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e membro do Observatório Covid-19 BR, Roberto Kraenkel, detalha que ainda não é possível provar matematicamente que é o isolamento social que tem reduzido os contágios, mas pesquisadores concordam que essa é a única hipótese aceitável até agora.

Ele se diz preocupado por não ver Estados planejando os passos para quando o pico da pandemia passar. Mesmo quando o número de pessoas que um doente é capaz de infectar estiver abaixo de 1, o problema não terminará, diz Kraenkel: “Se ainda houver muitos pacientes, não vai ser possível controlar a epidemia se resolvermos abrir a economia”.

O ideal, na perspectiva dele, é que, além de o ritmo de contágio diminuir, diminua o número absoluto de doentes. Só assim seria possível rastrear cada caso de Covid-19 e as pessoas com quem o paciente teve contato para fazer um isolamento seletivo.

Outra questão é entender quais atividades contribuem mais para a disseminação do vírus. Em muitas cidades, todas as academias, bares e escolas estão fechados, por exemplo, mas o fechamento de quais dessas atividades mais tem contribuído para os efeitos da desaceleração do contágio? Ainda não se sabe, mas a equipe que pesquisou a quantidade de vidas salvas pelo isolamento está trabalhando em um modelo matemático que pretende responder.

“Temos um projeto para simular a vida em uma cidade no computador. (Com dados oficiais), incluímos os habitantes das cidades, o endereço delas, onde trabalham, onde estão os bares, o tamanho do supermercado etc. Isso vira um ‘Jogo da Vida’ no computador”, explica o pesquisador Tiago Pereira da Silva.

Com o programa, seria possível ver o efeito do fechamento ou da reabertura de cada serviço sobre a pandemia. É algo que ele imagina que poderia ser útil para a proposta de isolamento intermitente cogitada pela Prefeitura de Belo Horizonte, por exemplo. De acordo com Silva, a primeira versão do programa deve ser finalizada em duas semanas e vai ser disponibilizada a governos interessados.

C/ Ascom

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